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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

A "sinhá" jauense


Jaú, no começo do século XX, era uma cidade que apoiava sua economia no cultivo do café. Isso só era possível por meio do trabalho escravo de vários negros e descentes pardos, que inspiraram cenários e personagens do trabalho de uma jauense.

Maria Camila de Oliveira Dezonne Pacheco Fernandes, popularmente chamada de Mariazinha, nasceu em Jaú em 08 de janeiro de 1904. Porém, quando tinha apenas quatro anos, sua família se mudou para o Rio de Janeiro.

Com seu olhar crítico, Mariazinha soube usar a história da abolição da escravatura como ninguém e criar um dos mais famosos romances de época da literatura, do cinema e da televisão, o “Sinhá Moça”.

A história se passa às vésperas da Lei Áurea, e Sinhá Moça era um exemplo de mulher a frente de sua geração. Bondosa e generosa, ela enfrenta o pai, um fazendeiro importante, e toda uma sociedade para mostrar que os negros deveriam ser libertados. O discurso de amor e confraternização repetiu nas telas do cinema e da televisão o poder que trouxe em seus livros. E a repercussão foi tanta que houve duas edições da novela.

Maria mudou-se para São Paulo após casar-se. Ela se consagraria como escritora, embora tenha escrito apenas cinco livros em toda a sua carreira. Amável mãe de casa, ela transmitia aos filhos e netos o amor pelo próximo.

Ela esteve em Jaú por apenas duas vezes após deixar a cidade tão nova. Em sua primeira visita, em 18 de novembro de 1953, veio de trem junto com os atores do filme “Sinhá Moça” para o lançamento oficial dele no Cinema Municipal. Ela e os atores foram recebidos pelo então prefeito Luiz Liarte e assistiram, junto com a população, a primeira exibição do filme na cidade.

Em 1986, ela vem a Jaú pela segunda vez, para abrir a exposição em sua homenagem no Museu Municipal e fez uma noite de autógrafos. Atualmente, há sua mesa, um livro e um tinteiro desta nobre autora, doados pessoalmente por ela, em exposição no espaço destinado a cultura jauense.

Embora tenha morado boa parte do tempo entre Rio de Janeiro e São Paulo, ela levava em seu coração as lembranças de Jaú. Segundo sua neta, a fotografa Érika Dezonne, ela nunca escondeu a vontade de voltar para sua terra. “Minha avó amava Jaú de todas as formas, ela dizia que era como um sonho voltar a um lugar que para ela era mágico”.

Segundo Érika, sua avó sempre se preocupou com causas sociais, até falecer. “Ela era uma luz que iluminava aqueles que necessitavam de sua ajuda. Ela sempre fez o que pode para qualquer instituição de caridade que pedisse”, comenta a respeito da ilustre avó.

Maria faleceu de parada cardíaca aos 93 anos, na cidade de São Paulo, em um chuvoso 02 de março de 1998. “Foi um dia triste, mas ela estava em paz e feliz por tudo que havia feito em vida. Enfim, ela dizia que todos temos a nossa hora de brilharmos como estrelas no céu e iluminar a vida de quem as vê daqui de baixo”.

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