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terça-feira, 20 de dezembro de 2011

As pessoas das ruas...

Agnello Lourenção

A rua que recebe seu nome encontra-se no Jardim Orlando Chesini Ometto II.

Agnello nasceu em 30 de abril de 1900 e faleceu em 09 de junho de 1983.

Foi um artista plástico que criava esculturas com mármore. Fez algumas peças com a face da Nossa Senhora Aparecida e de Jesus Cristo. Suas obras estão em cemitérios da capital do Estado de São Paulo e algumas em Jaú.

Morreu aos 83 anos e foi sepultado no Cemitério Municipal de Jahu.



Álvaro Floret

A rua que recebe seu nome encontra-se na Vila Hilst.

Álvaro nasceu em 07 de setembro de 1882 e faleceu em 05 de fevereiro de 1948.

Jornalista por convicção, foi o criador de pequenos jornais. Mas, o que mais se destacou foi um em parceria com seu irmão Gumercindo, que foi o jornal “Comércio de Jahu”, em circulação até hoje em dia.

Morreu aos 65 anos e foi sepultado no Cemitério Municipal de Jahu.



Ângelo Zugliani

A rua que recebe seu nome encontra-se na Maria Luiza I.

Ângelo nasceu em 23 de dezembro de 1905 e faleceu em 18 de agosto de 1968.

Foi técnico do Esporte Clube XV de Novembro de Jaú e criador dos refrigerantes XV. Doou um estádio para o time, próximo ao atual corpo de bombeiros, que foi penhorado e vendido pelo time e que hoje não existe mais.

Morreu aos 62 anos e foi sepultado no Cemitério Municipal de Jahu.



Brigadeiro Newton Braga

A avenida que recebe seu nome encontra-se na Vila Vicente.

Newton nasceu em 07 de março de 1882 e faleceu em 16 de agosto de 1959.

Era um militar da Aeronáutica e, embora não seja nascido em Jaú, foi o copiloto em parte da travessia de João Ribeiro de Barros com o “Jahú”, substituindo Arthur Cunha. Recebeu o título de Brigadeiro após seu retorno ao solo brasileiro.

Morreu cego e vítima de um enfisema aos 77 anos. Está enterrado no Rio de Janeiro.



Capitão Ribeiro

A rua que recebe seu nome encontra-se no Jardim Regina.

Nascido em Itu em meados de 1822, casou-se com 18 anos com sua prima de apenas 16 anos.

Seu nome completo é José Ribeiro Camargo, embora a rua seja conhecida apenas pela patente e o sobrenome. Foi um dos fundadores de Jaú e colaborou com a fundação do Povoado de Jaú. Foi um dos responsáveis pela demarcação das ruas que se tornariam o centro da cidade, na área da capela e do primeiro cemitério (entre o Grupo Escolar Major Prado, o Mercado Municipal e a Diretoria de Ensino). Atuou como vereador e neste período conseguiu com que fosse aberta uma estrada que ligava Jaú a Barra Bonita.

José Ribeiro foi o avô de João Ribeiro de Barros, e um dos grandes incentivadores do neto na aviação.



Edgard Ferraz do Amaral

A rua que recebe seu nome encontra-se no Centro.

Nasceu em 13 de fevereiro de 1862 e faleceu em 17 de abril de 1912.

Foi um dos fundadores da cidade de Jaú. Um dos que doou terras para que fosse construído um pequeno vilarejo que, tempos depois, se transformaria no centro da cidade. Também fez o serviço de esgoto, canalização de águas e criação de um reservatório de água para toda a cidade. Colaborou com a instalação dos primeiros telefones e iluminação elétrica. Foi vereador, juiz de paz, delegado de polícia, intendente municipal e deputado estadual.

Morreu aos 50 anos e foi sepultado no Cemitério Municipal de Jahu.



Francisco Gomes Botão

A rua que recebe seu nome encontra-se na no bairro Santo Antônio.

Infelizmente, não há informações quanto a data de seu nascimento e falecimento.

Francisco foi um dos primeiros que chegou e comprou terras em Jaú. Mais tarde, cedeu sua casa para a realização da reunião que marcaria os rumos da criação da Matriz e um pequeno vilarejo. 20 alqueires de suas terras, que iam da Matriz até o Pouso Alegre, foram cedidas para a criação desse vilarejo e outra parcela vendida aos Almeida Prado, quando chegaram a Jaú.

Francisco voltou a morar com sua esposa em Rio Claro, onde se tornaria membro da primeira Câmara Municipal de Rio Claro, em 1845, e permaneceria o restante de sua vida sempre atuante na carreira política.

As pessoas das ruas...

Major Prado

A rua que recebe seu nome passa entre os bairros Vila Nova, Centro e Maria Luiza II.

Nasceu em 02 de fevereiro de 1921 e faleceu em 12 de janeiro de 1904.

Francisco de Paula Almeida Prado, mais conhecido por Major Prado, foi um dos primeiros representantes da família Almeida Prado a chegar a Jaú. Francisco comprou o título de major, foi um político e grande fazendeiro. A escola estadual Major Prado, construída em 30 de agosto de 1914 e inaugurada em 15 de novembro do mesmo ano, foi uma homenagem ao nacionalizado jauense.

Morreu aos 83 anos e foi sepultado no Cemitério Municipal de Jahu.



Orozimbo Loureiro

A rua que recebe seu nome encontra-se na Vila Hilst.

Nasceu em meados de 1866 (infelizmente não há informações precisas quanto ao dia e o mês) e faleceu em 29 de março de 1936

Orozimbo Augusto de Almeida Loureiro foi o primeiro comendador a concorrer ao cargo em Jaú. Embora tenha ganho a votação para o cargo que seria o de presidente, seu partido optou por outro nome e Orozimbo ficou lembrado como injustiçado político.

Morreu aos 70 anos, aproximadamente, e foi sepultado no Cemitério Municipal de Jahu.



Prefeito Doutor Alfeu Fabris

A avenida que recebe seu nome encontra-se no Jardim Padre Augusto Sani.

Nasceu em 13 de abril de 1922 e faleceu em 12 de julho de 1994.

Ele assumiu em 1977, após vencer com 15.520 votos, com diferença de 7.402 votos à frente dos demais, unanimidade na política da cidade até então. Alfeu implantou novas redes de água e esgoto na cidade, abriu mais avenidas, asfaltou o centro urbano, ergueu pontes e viadutos. Ainda trouxe o Corpo de Bombeiros, construiu o kartódromo, expandiu a telefonia na zona rural e instalou postos de saúde na periferia e distritos vizinhos. Ele renuncia em 1982, faltando um ano para completar seu mandato, para lançar sua candidatura como deputado federal, apesar de não ter ganho.

Morreu aos 72 anos e foi sepultado no Cemitério Municipal de Jahu.



Soldado Júlio Pinheiro de Araújo

A rua que recebe seu nome encontra-se no Jardim Jorge Atalla.

Nasceu aproximadamente em 1911 (infelizmente não há informações precisas quanto ao dia e o mês) e faleceu em 1º de novembro de 1932.

O jogador de futebol foi um dos mais de 800 jauenses que foram batalhar por uma Constituição na Revolução Constitucionalista de 32. Se alistou como voluntário e lutou durante todo o combate, de julho a outubro do mesmo ano. Porém, voltou para Jaú doente e não conseguiu se recuperar.

Morreu aos 21 anos e suas cinzas foram transladadas ao Obelisco Mausoléu aos Heróis de 32 em São Paulo.



Vasco Cinqüini

A rua que recebe seu nome encontra-se no Jardim Pedro Ometto.

Infelizmente não há informações precisas quanto a data de seu nascimento, porém faleceu em 11 de janeiro de 1929.

Vasco Cinqüini, embora não tenha nascido em Jaú, seu feito trouxe grande honra para a cidade. Junto de João Ribeiro de Barros, o mecânico o ajudou na escolha do hidroavião “Jahú” e durante toda a travessia.

Morreu devido à queda de seu aeroplano Breda-15 recém comprado da Itália, que ele faria voos e excursões a fim de sustentar a sua família. No entanto, uma das asas quebrou e ele perdeu o controle do avião. Caiu no mar de Santos, litoral de São Paulo, e foi resgatado por duas pessoas presentes e mais um mergulhador na hora da queda. Está enterrado em São Paulo.



Zezinho Magalhães

A avenida que recebe seu nome encontra-se na Vila Nova Jaú.

Nasceu aproximadamente em 1917 (infelizmente não há informações quanto ao dia e ao mês), e faleceu em 21 de março de 1969.

O advogado José Maria Magalhães de Almeida Prado, mais conhecido como Dr. Zezinho, foi presidente do Esporte Clube XV de Novembro e trabalhou na ascensão da equipe jauense da 2ª para a 1ª divisão de profissionais em 1951. Durante 1955, se candidatou à Prefeitura e ganhou com 5.022 votos. Empossou em 1º de janeiro de 1956 e ficou até 14 de dezembro de 1958, saindo para assumir cadeira na Assembleia Legislativa.

Em 15 de agosto de 1973, foi inaugurado o estádio do XV em sua homenagem, com capacidade para 20 mil pessoas.

Morreu aos 52 anos e foi sepultado no Cemitério Municipal de Jahu.



Wanderico de Arruda Moraes

A rua que recebe seu nome encontra-se no Jardim Juliana.

Nasceu em 30 de dezembro de 1911 e faleceu em 22 de janeiro de 2006.

Foi delegado do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) durante a ditadura militar em São Paulo. Em uma operação, chegou a prender mais de 900 jovens durante um Congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes) em Ibiúna, inclusive José Dirceu e José Genoíno, que ocupam cargos importantes no Governo Dilma.

Costumava arquivar em sua casa, em Jaú, os inquéritos de quando atuou com o DOPS da capital do Estado.

Morreu aos 94 anos e foi sepultado no Cemitério Municipal de Jahu.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O mais rico do mundo



Entre o fim da década de 80 e início dos anos 90, a revista norteamericana “Forbes” elegeu um jauense para a lista das pessoas mais ricas do mundo. Sebastião Ferraz de Camargo Penteado ficou nela por quatro anos consecutivos. Na época, sua fortuna estava avaliada em US$ 1,3 bilhão. Mas, essa dinheirama toda só foi possível porque não mediu esforços para ter uma vida melhor do que seus pais tiveram.

Nascido em 25 de setembro de 1909, Sebastião Camargo era filho dos agricultores Francisco Ferraz de Camargo Penteado e Anna Claudia Carvalho Ferraz. Estudou até o terceiro ano do Ensino Fundamental. Mas sua realidade começou a mudar quando, aos 17 anos, resolveu que era hora de encarar desafios.

Começou a trabalhar retirando terra da construção de estradas no interior paulista. Tempo depois se aventurou como empregado para os irmãos Urbino e Sinésio Sampaio Góes, tornando-se posteriormente empreiteiro.

Tomou gosto pelo negócio e, em 1936, faz parceria com Sylvio Corrêa, abrindo assim um pequeno negócio na Rua Barão de Paranapiacaba, atualmente conhecida como 25 de Março, no Centro de São Paulo. A Camargo Corrêa só daria certo devido ao forte desenvolvimento brasileiro da época e pela política favorável ao produto nacional.

A empresa começou pequena, com poucos funcionários e lucro ínfimo. No entanto, o serviço, sempre muito bem exercido, fez com que ela ganhasse fama. Em menos de três anos, a construtora começou a mostrar que teria um grande futuro pela frente.

Sua empresa foi responsável por mais de mil obras, entre elas as rodovias Imigrantes e Bandeirantes, o gasoduto Brasil-Bolívia, a usina nuclear de Angra 1 e a hidrelétrica Itaipu. Esta rendeu muito que falar, já que o ditador paraguaio Alfredo Stroessner, amigo de pescaria e caça do construtor, disse que só aceitaria a construção se ela fosse feita pela empresa de seu caro amigo “Don Sebastián”.

Também participou da abertura de várias estradas que possibilitaram o acesso a Brasília na década de 50.

Pouco antes disso, em maio de 1948, fundou a Companhia Jauense Industrial e ingressou na indústria têxtil, a fim de gerar empregos para seus conterrâneos. Empregou, sim, milhares de jauenses, mas também a transformou em uma das grandes produtoras de tecidos do país.

O grupo Camargo Corrêa, comandado agora por suas filhas e genros, por sua vez adquire 50% das ações ordinárias e 52% das preferenciais da Santista Têxtil em junho de 2003. No entanto, com o impasse, a empresa fecharia em Jaú, deixando todos seus funcionários desempregados após agosto de 2005.

Pode-se dizer que “Don Sebastián”, “Bastião” ou até mesmo “China”, por conta de seus olhos puxados, foi feliz em sua jornada. Conseguiu provar para aqueles que riam de seus sonhos que aquilo não era impossível. Bastava curiosidade, determinação e persistência.

Seu tradicionalismo garantiu uma gorda e palpável poupança, o que melhorou sua vida, de seus pais, irmãos e descendentes. Porém, morreu em 26 de agosto de 1994, aos 84 anos.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

A mãe dos anjos



Nascida em 25 de novembro de 1906, na cidade de Jaú, filha do casal Maria Botelho e José Garcia Barros, Rosa Botelho Garcia de Barros ficaria órfã aos seis meses e seria criada pela família Toledo de Barros, família rica, conservadora e extremante rígida.

A jovem Rosa, como toda garota de sua época, tinha forte ligação com o jardim da casa onde vivia. Em um dos dias em que apreciava seu jardim, ela reparou alguns pedreiros trabalhando na construção do Hotel São José, entre eles estava aquele que se tornaria seu marido.

O amor entre os dois nasceu e floresceu; tempos depois celebravam seu casamento. Porém, três anos depois, seu marido ficou profundamente doente, alternando momentos de fúria e medo de modo inexplicável para os médicos daquela época. Sem muita saída, Rosa o internou em um hospital psiquiátrico em Franca, chamado “Allan Kardec”.

Como eram humildes, Rosa teve que pedir emprego na própria instituição para poder pagar pelo tratamento de seu marido, que viria a falecer cinco anos após sua internação. Sem família ou lugar para morar, ela voltou para Jaú aos 30 anos.

Porém, sem emprego, família ou um lar para morar, a coisa não pareceu tão animadora para ela. “Logo que chegou, ela decidiu que precisava rezar e se foi para o ‘Verdade e Luz’. Lá ela contou sua história, o que comoveu várias pessoas que lhe ofereceram um emprego temporário como faxineira do centro e um lugar onde pudesse dormir até que arrumasse um verdadeiro lar” comenta a responsável pelo Centro Espírita União, Paz e Caridade, Georgete Moreira.

Um tempo depois, ela começou a trabalhar na Fepasa como recepcionista. “Ela via crianças de rua rondando a estação e que dormiam no chão frio por falta de um lar. Aquela cena foi o que fez com que ela pensasse em criar o Nosso Lar”, explica Georgete.

Ela diz que houve ainda outros incentivos. “Ela era sozinha, órfã e se tornou viúva sem filho muito cedo. Ela amava crianças e foi natural a criação de um lugar para cuidar delas”. Georgete diz que nesse ponto, Rosa contou novamente com a ajuda do Centro Espírita. A instituição começaria a ser construída em 6 de setembro de 1949 para atender as crianças carentes que Rosa tanto queria ajudar.

Rosa contou com a ajuda de suas amigas, que ficaram conhecidas como a Associação das Senhoras Cristãs, na arrecadação de donativos, móveis, roupas e todo e qualquer objeto que pudesse ser utilizado no abrigo. “O intuito dela era dar um lar para quem nunca teve um. As pessoas acham que é uma creche, mas lá na verdade é um abrigo e recebeu o nome de Abrigo dos Anjos, porque Rosa dizia que as crianças eram anjos que vinham pra Terra para alegrar nossas vidas”, esclarece Georgete.

Dona Rosa faleceu de causas naturais, após 89 anos de luta e dedicação em uma noite de 28 de março de 1996.

O fundador do primeiro Centro Espiritual de Jaú



Paulino de Oliveira Maciel nasceu na cidade de Areias, interior de São Paulo, no natal de 1847. Filho dos pobres agricultores José e Maria de Oliveira Maciel, ele teve vida honesta e simples. Embora tenha feito seus estudos primários, teve que trabalhar na lavoura junto com seus irmãos.
Inquieto, aos 18 anos decidiu aventurar-se em novas terras. Com o aval de seus pais, partiu sem rumo ora caminhando, ora com carona em carros de boi. Foi assim que em setembro de 1867 ele chegou a Jaú.

Logo fez amizades e por ser muito inteligente, simpático e autodidata no violão, acabou sendo convidado para se tornar Escrivão de Paz. Passou assim a frequentar a alta sociedade jauense, onde conheceria sua futura esposa Fortunata.

De origem religiosa espírita, tentava mostrar a todos os fundamentos de sua religião através do amor e da caridade. As primeiras atividades da religião no município que se tem notícia datam de 1904, e eram justamente reuniões feitas na casa de Paulino Maciel, localizada então na esquina das ruas Edgard Ferraz com a Riachuelo. Nessas reuniões, ele transmitia seus ensinamentos sobre Allan Kardec e toda a religião espírita aos frequentadores.

Trabalhou como contador e com isso comprou um sítio próximo a Jaú. Nele, começou a trabalhar como uma espécie de curandeiro, fornecendo remédio e auxílio para quem lhe procurava. Sua fama logo se espalhou e ele voltou a viver na cidade.

Paulino era adepto da homeopatia. “A homeopatia é uma forma natural de, através de plantas, buscar uma cura para vários males e Paulinho era extremamente bom nisso”, comenta a responsável pelo Centro Espírita União, Paz e Caridade, Georgete Moreira.

Tempos depois, foi convidado pelo Partido Conservador Jauense para concorrer como vereador, cargo que exerceria de 07 de janeiro de 1895 até 11 de janeiro de 1897. Um de seus projetos era a criação de uma Santa Casa. Para a construção, ele conseguiu doação de generosa quantidade de terras da fazenda José Pereira, pertencentes a Fabiana Pereira.

Em 1895 foi nomeado Intendente Municipal, em uma época em que a febre amarela assolava a cidade. Paulino continuou trabalhando com sua homeopatia, mas nem esta se mostrou eficiente para acabar com este mau. Entre os mortos pela doença estava Fortunata. Ele se casou com outra moça, Maria, anos depois, quando já não possuía mais dinheiro algum. Porém, não abandonou a homeopatia e continuou a medicar os necessitados que o procuravam.

Foi em sua administração em que o a praça da Matriz recebeu árvores e jardins. Também fundou o Centro Espírita Verdade Luz em 1909, um dos mais antigos do Brasil, que passou para as mãos de Caetano Lourenço de Camargo. Posteriormente, Paulinho funda o Centro Espírita União, Paz e Caridade, próximo a sua casa, já que o primeiro passa a ser do outro lado da cidade e ele se encontrava com a saúde debilitada. Ambos funcionavam de forma semelhante e serviam para incentivar e transmitir os ensinamentos de Allan Kardec. Aliás, os livros desses locais eram, no princípio, os livros do próprio Paulinho. “Ele sempre quis contribuir com o que possuía. Fosse dando medicamentos de fabricação caseira ou emprestando um livro”, diz Georgete.

No final de sua vida, sem muita opção de trabalho, acabou por ser servente no grupo escolar Pádua Salles, trabalhando para o diretor e amigo Túlio Espíndola de Castro até seu falecimento em 09 de dezembro de 1925.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

O pároco que foi para a guerra e passava filmes



Padre Augusto Sani, mesmo nascido na Itália, fez muito pelos jauenses. O mais conhecido pároco da Igreja São Benedito utilizava seus sermões para transmitir todo seu conhecimento sobre a vida, seja em assuntos polêmicos ou não.

Nascido na cidade de Volano, na província de Trento, em 08 de agosto de 1910, ele enfrentou inúmeros desafios antes de chegar ao Brasil, em 1947.
Assim que se tornou sacerdote, foi para a Etiópia, na África, ajudar as pobres crianças castigadas pela fome. Lá, ficou por cinco anos desenvolvendo trabalhos de assistência à população.

Contudo, quando a Itália perdeu o território da Etiópia para os ingleses, ele foi feito prisioneiro no Quênia. Ficou preso por sete meses, mas não perdeu a alma de um bom padre. Exerceu suas funções religiosas com os prisioneiros e ainda realizou trabalhos sociais, tais como um jornal interno e até mesmo teatro.

Foi libertado do Quênia quando foi escolhido, com outros 12 presos, para ser trocado por outros prisioneiros ingleses.

Não sabia, porém, que ainda iria ver tanta dor e sofrimento. O historiador Roberto Carvalho, que mora no Rio de Janeiro, se especializou sobre a 2ª Guerra Mundial. Ele conta que, como a Itália fazia parte do Eixo, os alemães pediram ajuda. “Pediram que enviassem dois padres para dar apoio espiritual aos prisioneiros. E o Padre Sani foi um dos que foram convocados e seguiu para a Alemanha. Ele viu todos aqueles comboios chegarem com 90, até mesmo 100 judeus, todos para serem queimados em fornalhas. Ele viu tudo, até mesmo a fabricação de sabão com a utilização do óleo dos corpos cremados” relata Roberto.

“Mas nem por isso ele deixou de orar. Ele ficou conhecido por lá como o padre mais carinhoso. Ele rezava, conversava, abençoava e perdoava os pecados, mesmo que os judeus não tivessem cometido nenhum pecado para estarem lá presos”.

Assim que a guerra acabou, o padre veio para o Brasil e junto com ele a vontade de se fazer um mundo melhor. Ainda segundo o historiador, “ele aprendeu muito com tudo o que viu, ele passou a ser uma pessoa muito mais amorosa e carinhosa tendo em consciência todo o sofrimento das pessoas.”

Quando veio para Jaú, em 1947, Sani ergueu um seminário e lutou pelo calçamento de um bairro todo de terra, que após sua morte ganharia seu nome. Também montou um cinema paroquial. Contudo, quando o governo obrigou as salas a exibir 50% de filmes nacionais foi o fim desses cinemas em todo o Brasil, já que a produção nacional se resumia a filmes de Mazzaropi e eróticos.

O padre também ficou conhecido por algumas famílias jauenses como aquele que era contra a união de um casal simplesmente porque a menina estava grávida. Ele dizia que esses casais não tinham maturidade, portanto não dariam certo. Isso foi contra todas as expectativas e pensamentos das famílias, mas muitos apoiaram no fim das contas.

Sani, no entanto, voltou para a Itália, onde viria a falecer tempos depois, em 1996, de causas naturais.

A "sinhá" jauense


Jaú, no começo do século XX, era uma cidade que apoiava sua economia no cultivo do café. Isso só era possível por meio do trabalho escravo de vários negros e descentes pardos, que inspiraram cenários e personagens do trabalho de uma jauense.

Maria Camila de Oliveira Dezonne Pacheco Fernandes, popularmente chamada de Mariazinha, nasceu em Jaú em 08 de janeiro de 1904. Porém, quando tinha apenas quatro anos, sua família se mudou para o Rio de Janeiro.

Com seu olhar crítico, Mariazinha soube usar a história da abolição da escravatura como ninguém e criar um dos mais famosos romances de época da literatura, do cinema e da televisão, o “Sinhá Moça”.

A história se passa às vésperas da Lei Áurea, e Sinhá Moça era um exemplo de mulher a frente de sua geração. Bondosa e generosa, ela enfrenta o pai, um fazendeiro importante, e toda uma sociedade para mostrar que os negros deveriam ser libertados. O discurso de amor e confraternização repetiu nas telas do cinema e da televisão o poder que trouxe em seus livros. E a repercussão foi tanta que houve duas edições da novela.

Maria mudou-se para São Paulo após casar-se. Ela se consagraria como escritora, embora tenha escrito apenas cinco livros em toda a sua carreira. Amável mãe de casa, ela transmitia aos filhos e netos o amor pelo próximo.

Ela esteve em Jaú por apenas duas vezes após deixar a cidade tão nova. Em sua primeira visita, em 18 de novembro de 1953, veio de trem junto com os atores do filme “Sinhá Moça” para o lançamento oficial dele no Cinema Municipal. Ela e os atores foram recebidos pelo então prefeito Luiz Liarte e assistiram, junto com a população, a primeira exibição do filme na cidade.

Em 1986, ela vem a Jaú pela segunda vez, para abrir a exposição em sua homenagem no Museu Municipal e fez uma noite de autógrafos. Atualmente, há sua mesa, um livro e um tinteiro desta nobre autora, doados pessoalmente por ela, em exposição no espaço destinado a cultura jauense.

Embora tenha morado boa parte do tempo entre Rio de Janeiro e São Paulo, ela levava em seu coração as lembranças de Jaú. Segundo sua neta, a fotografa Érika Dezonne, ela nunca escondeu a vontade de voltar para sua terra. “Minha avó amava Jaú de todas as formas, ela dizia que era como um sonho voltar a um lugar que para ela era mágico”.

Segundo Érika, sua avó sempre se preocupou com causas sociais, até falecer. “Ela era uma luz que iluminava aqueles que necessitavam de sua ajuda. Ela sempre fez o que pode para qualquer instituição de caridade que pedisse”, comenta a respeito da ilustre avó.

Maria faleceu de parada cardíaca aos 93 anos, na cidade de São Paulo, em um chuvoso 02 de março de 1998. “Foi um dia triste, mas ela estava em paz e feliz por tudo que havia feito em vida. Enfim, ela dizia que todos temos a nossa hora de brilharmos como estrelas no céu e iluminar a vida de quem as vê daqui de baixo”.

domingo, 4 de dezembro de 2011

O desbravador do "oceano"


Jaú teve inúmeras figuras históricas. Uma a uma, cada um contribuiu para transformar a cidade no município próspero e amado que é hoje. Mas, de todos os filhos de Jaú, um se destacou mais do que todos os outros: João Ribeiro de Barros.

Era começo do século quando o futuro comandante João nasceu na propriedade de sua família no dia 04 de abril de 1900.

Neto de um dos fundadores da cidade, ele tinha nas veias o sangue de um desbravador do desconhecido. A paixão pela aviação veio de seu pai, que o apresentou a um amigo pessoal de Alberto Santos-Dummont, o primeiro brasileiro a ganhar os ares à bordo de um avião.

Essa vontade em fazer algo diferente foi o norte da vida do pequeno João. Embora tenha começado seus estudos em Jaú, era comum os filhos de famílias conservadoras partirem para a capital. Sendo assim, iniciou seus estudos no Instituto de Ciências e Letras, além de cursar dois anos de Estudos Jurídicos e Sociais na Universidade de São Paulo. Isso até perceber que seu caminho o levaria para lugares bem mais distantes do que mesas de tribunais.

Desistindo do Direito, ele vai para os Estados Unidos aprender Engenharia Mecânica e depois segue para a França, onde tira o brevet de número 88 na “Ligue Internationale des Aviateurs”, no dia 21 de fevereiro de 1923. Com sua licença para voar, ele segue para a Alemanha onde aprende acrobacias aéreas.


O pontapé inicial

Em 1922, quando Portugal convoca dois de seus mais hábeis pilotos para rumarem ao Brasil, em comemoração ao centenário de Independência Brasileira, Gago Coutinho e Sacadura Cabral utilizam no trajeto três hidroaviões com os nomes das antigas caravelas a chegarem ao país cem anos antes, Luzitânia, Santa Maria I e Santa Maria 2.

Os pilotos portugueses contavam com o apoio de vários navios ao longo do percurso, já que não era possível que um hidroavião chegasse ao outro lado do Atlântico sem ajuda marítima.

O acontecimento despertou em João Ribeiro de Barros a vontade de tentar algo novo: ele queria ser o primeiro a completar o trajeto sem contar com ajudas externas. Para ele, o avião deveria ser capaz de funcionar sozinho, tendo uma completa autonomia.

Entre os países europeus, como Portugal, França, Espanha, Inglaterra e Alemanha, era comum a promoção de reides pelo governo. João achou que poderia contar com ajuda do então Presidente da República, Washington Luís. Mas ele disse que o governo não colaboraria, e o mandou desistir.

Decepcionado, mas, não vencido. Ele vendeu sua herança para seus irmãos e segue para São Paulo, onde entra em contato com Luchini, representante da fábrica italiana Savóia Marcheti. Contou que estava interessado em adquirir um hidroavião. Porém, tudo o que ele consegue é um avião danificado, que havia sido posto à prova no mesmo trajeto e fracassado logo no início do trajeto.

Ele sabia que precisaria de muita ajuda, por isso contrata o mecânico Vasco Cinqüini por meio do anúncio de jornal. Então, rumam para Nova Iorque, onde estudariam o percurso com o português Gago Coutinho.

Tempos depois, João e Vasco chegam a Europa para restaurar o hidroavião, retirando dele tudo que era julgado desnecessário, como o rádio de comunicação. Cada peça retirada dava espaço a mais combustível que deveria aumentar a autonomia do “Jahú”. Porém, os italianos, vendedores do avião defeituoso, não se conformaram com a ideia de perder o lugar na história para um brasileiro, e começaram a criar um avião com as mesmas modificações feitas pela dupla.

Não demorou para que o navegador Newton Braga e o segundo piloto Arthur Cunha fizessem parte da empreitada. E o hidroavião levantaria voo em 18 de outubro de 1926.


A traição que prejudicou o voo

O hidroavião decola de Gênova, em meio a aclamação popular. Porém, seus tripulantes descobririam que havia sabão caseiro, terra e água nos tanques de combustível somente quando estivam no ar. Além de um pedaço de bronze, colocado no fundo do cárter do motor traseiro. Esses fatores fizeram com que o hidroavião fizesse um pouso forçado na ilha Alicante, onde autoridades espanholas os impediriam de prosseguir.

Após a embaixada brasileira em Madri intervir, os tripulantes são soltos para prosseguir viagem. Porém, duas horas depois, outro pouso de emergência, desta vez em Gibraltar, para a substituição do combustível.
Eles voltam ao ar, mas a bomba de gasolina deixa de funcionar novamente, o que os obriga a usar uma bomba manual, conseguindo a muito custo descer em Porto Praia, no arquipélago do Cabo Verde.

De todas as paradas de emergência, esta foi a pior, pois João, Vasco e Newton são traídos por Arthur. Isso os obrigou a fazer reparos em todo o avião. O comandante chegou a pensar em desistir e, então, enviou uma carta para sua mãe, Margarida. Ela, no entanto, o apoia e pede para que continue, pois todos os brasileiros estão torcendo por ele. Como o avião não poderia ser pilotado por uma única pessoa, a família de João Ribeiro consegue que o Capitão João Negrão vá até Porto Praia para ocupar o lugar de Arthur Cunha.

Em 28 de abril, às 4 horas da manhã, o “Jahú” levanta voo novamente, atingindo 190 km/h, um recorde que só seria batido 10 anos depois. Seus tripulantes passaram por várias situações climáticas desfavoráveis, mas, dentro do hidroavião a esperança era o que os fazia seguir em frente. Chegaram em Fernando de Noronha às 5 horas da tarde, com alguns equipamentos apresentando defeitos.

O hidroavião foi desmontado para ser enviado a São Paulo, mas isso não apaga de toda a trajetória desses brasileiros, que enfrentaram de tudo, até a traição, para realizar um sonho que se tornaria algo tão banal nos dias atuais: a travessia do oceano Atlântico a bordo de um avião, sem auxilio de navios.


A vida pós travessia

João Ribeiro de Barros não teve filhos, mas seu legado repercute até hoje. Um de seus sobrinhos, o aposentado José Ribeiro de Barros Filho, de 73 anos, morou junto com João Ribeiro por quase 10 anos e conta que ainda guarda as lembranças. “Eu recordo perfeitamente dos passeios que dava com ele. Lembro de quando ele me levou no Museu do Ipiranga para ver o avião [Jahú]”.

Mais do que uma simples travessia, o feito do aviador jauense se tornou um marco histórico. “A atenção do mundo inteiro se voltou estupefata para esse longínquo país [Brasil], que passou a competir com as maiores nações numa área de tamanha importância”, comenta José.

Inspirado pelo filho Eduardo Ribeiro de Barros, José decidiu escrever um livro exclusivo narrando toda a trajetória de João Ribeiro, para manter viva a lembrança do tio. Ele conta que a obra tem mais de 300 páginas e inclui quase 800 fotos inéditas. “É tudo sobre ele, são histórias que nunca ninguém ouviu”, conta José. O livro já foi aprovado pela Lei Rouanet, e agora José aguarda a contribuição de empresas para tornar o projeto uma realidade.

Mas qual será a emoção de ser familiar desta personalidade tão ilustre? Orgulhoso, José conta. “Para mim realmente é uma honra, a história dele é uma das mais bonitas. Ele voou sem apoio numa época em que havia uma competição danada para ver quem conseguiria atravessar o Atlântico primeiro, e teve sucesso. É um herói”, exclama emocionado.

A primeira vereadora de Jaú



Antigamente, mulheres tinham pouca influência na sociedade. Mas essa situação se inverteu quando Iolanda Mazzei, nascida em 20 de julho de 1925, marca presença entre a elite jauense.

Quando ainda era adolescente conheceu um rapaz, chamado Tancredo Mazzei, na Praça da República, em uma das tardes com música. Após quatro anos de compromisso, aconteceu o tão sonhado casamento. Assim, ela se tornou Iolanda Cândido de Oliveira Mazzei. Com ele, Iolanda teve cinco filhos.

A família nunca ofuscou o talento dela em se relacionar com pessoas. A professora formada em Letras atuou fortemente na área filantrópica e participou de diversas ações sociais. Fundou o Lar Escola Hilarinho Sanzovo, onde presidiu por cinco anos, e foi a sócia fundadora do curso Supletivo Ideal. Também presidiu a Associação das Senhoras Rotarianas e foi membro do conselho administrativo da Fundação Educacional Dr. Raul Bauab.

No entanto, um de seus trabalhos mais conhecidos foi a fundação da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (a APAE), em 1965, com a finalidade de atender portadores de necessidades especiais.

Segundo o diretor social da APAE, Aldo Mazza Junior, que conheceu Iolanda alguns anos antes de sua morte, “ela era uma mulher excepcional. Sempre bem animada e com um coração do tamanho do mundo”.

A APAE foi considerada uma das primeiras do Estado de São Paulo e a 17ª do Brasil. Iolanda a dirigiria por 30 anos.

No entanto, o destaque em sua vida foi sua participação na política jauense. Em 15 de novembro de 1972, Iolanda se tornou a primeira mulher a ocupar uma cadeira na Câmara dos Vereadores. Ocupou o cargo após vencer com 1.381 votos, a mais votada naquele ano, sendo eleita pela ARENA2 e escolhida como presidente da Câmara.

Maria Cândida Mazzei, nora da Iolanda que mora em São Paulo e que passa as férias em uma casa da família em Jaú, conta que ela sempre lutou por melhorias na cidade. “Tudo o que reclamavam para ela, por mínimo que fosse, ela dava um jeitinho de arrumar, de consertar, de não deixar aquilo incomodando. Ela sabia muito bem como é chato ter algo impedindo de vivermos nossa vida da melhor forma”, comenta.

O primeiro mandato de Iolanda foi entre 1973 e 1977. Por partido, era ligada aos ex-prefeitos Décio Pacheco e Jarbas Faracco. Fez ainda oposição ao prefeito eleito no período, Waldemar Bauab.

Contudo, ainda segundo a nora, “ela não se satisfez, porque recebia muitas ligações e reclamações e decidiu tentar outra vez”. Por causa disso, ela voltou a ocupar uma cadeira no Legislativo por mais um mandato, de 1997 a 2000. Em seu segundo mandato, Iolanda, agora no PMDB, obteve 1.176 votos.
Ela morreu no dia 22 de julho de 2006, aos 81 anos, de causas naturais.

sábado, 3 de dezembro de 2011

A polêmica escritora



Uma entre tantas na lista dos escritores jauenses, Hilda Hilst se destaca com sua personalidade marcante. Seu temperamento forte batia de frente contra as normas da sociedade da época.

Em uma época em que o papel da mulher era restrito a cuidar da casa e da família, Hilda rompeu barreiras com um comportamento que contrariava as regras extremamente tradicionais da sociedade.

E ela não era aquela pessoa que temia escrever seus pensamentos, mesmo que não gostasse da ideia de divulgá-las para todas as classes. Essa coragem e determinação, no entanto, descobriríamos apenas com os primeiros livros lançados que ela havia herdado essas características de sua mãe.

Hilda nasceu em 22 de abril de 1930. Era filha única do fazendeiro e poeta Apolônio de Almeida Prado Hilst e de Bedecilda Cardoso. Do pai havia herdado o amor pelas letras rimadas, da mãe a irreverência.

Ela morou durante os primeiros anos de sua vida em Jaú, mas foi obrigada a sair após brigas entre seus pais. Sua mãe, farta dos maus tratos e das brigas costumeiras, pediu o divórcio. Apesar de ser incomum, tornou-se a fonte de inspiração de Hilda.

Após a separação dos pais, Hilda se mudou com a mãe para Santos, e posteriormente, São Paulo, onde viveu, por quase 30 anos.

Ela estudou Direito pela Universidade de São Paulo, porém ela nunca se dedicou às leis. As audiências eram tediosas e a única coisa proveitosa que ela fazia eram suas rimas em seu caderninho particular. E o amor pela arte acabou entregando à ela uma nova vida nunca antes pensada: a boemia. Durante esse período, as vinda a Jaú, que já eram costumeiras, tornaram-se ainda mais raras.

Arilde Santiago Hilst, prima da escritora que reside em São Paulo, conta que quando era pequena via Hilda. Mas as ocasiões nem sempre eram boas. “Nossas famílias só se reuniam mesmo em situações extremas, morte de alguém ou casamento de outro.”

Mesmo assim, Arilde não teve a chance de conhecer muito bem a prima. “Eu nunca conseguia conversar muito com a Hilda nessas horas, porque ela sempre foi muito distante de tudo. Eu acho mesmo que ela era superior, seu conhecimento era superior, e isso diferenciava e dificultava muito as conversas”, lamenta a prima.

Ela conta ainda que muitos da família só começaram a entender o que se passava pela mente de sua familiar com o lançamento do primeiro livro. “Quando ela começou a escrever, todos ficam curiosos, ninguém sabia o que ela escrevia ao certo. Mas quando ela começou a lançar livros, todos meio que entenderam melhor como é que funcionava a mente daquela mulher tão excêntrica.”

O primeiro livro lançado foi em 1950, chamado “Presságios”. Uma década depois, morando na Casa do Sol, em Campinas, Hilda intensificou a produção literária. Teve obras traduzidas para o alemão, francês, inglês e italiano. Assim, nasceu e fortaleceu um ícone da literatura brasileira.

Em toda sua vida, publicou 38 obras, entre poesias, peças de teatro e prosa. Vinicius de Moraes, Adoniram Barbosa e Carlos Drummond de Andrade se tornaram seus fãs. Faleceu no dia 04 de fevereiro de 2004 por falência múltipla dos órgãos no hospital em Campinas. Foi enterrada ali também.

As 200 patentes de um jauense


Imagine a situação como era incomoda: você tinha que ligar a água do chuveiro e depois a tomada que a esquentaria. Os chuveiros eram assim, só funcionavam após ligar manualmente a força na tomada. E, um detalhe, ele só poderia ser ligada após a água correr, se não, corria-se o risco de queimar todo o aparelho. Mas alguém ainda iria melhorar a situação. E ele se chama Francisco.

Francisco Canhos era conhecido como Chico pelos amigos. Ele nasceu na cidade de Jaú em 19 de Outubro de 1914 e teria nos próximos anos mais oito irmãos.

Logo na infância, seu interesse por equipamentos elétricos despertou. Na adolescência ele faria um curso de eletricidade por correspondência. Entre seus primeiros inventos estavam presépios articulados que se popularizaram em toda a região.

Em 1927 ele criou seu primeiro chuveiro. Nessa época, ele trabalhava na padaria de sua família. Como não dispunha de outra forma, vendia seus chuveiros de porta em porta. Todos eram fabricados de forma artesanal, e o futuro empresário não se preocupou em patentear a invenção.

Somente em 1943 ele fundaria sua fábrica no mesmo bairro da padaria de seu pai, no Jardim Santo Antônio. Em homenagem à sua família, parte do bairro foi renomeada para Vila Canhos anos depois.

Com a fábrica, veio a necessidade de patentear seu invento, mas em 1953, depois que seu procurador deixou de pagar pelas licenças, a Lozenzzeti, fabricante italiana, a patenteou. Assim, sete anos depois, a patente do jauense passou de ser de posse integral da fabricante italiana, que lançou vários modelos e aperfeiçoou a invenção de Chico.

Segundo sua filha, Maria do Carmo Canhos Navarro, o chuveiro não foi à única grande invenção de seu pai. “Ele inventou muitas coisas ao longo de sua vida, mas nunca se preocupou em patenteá-las. Ele só patenteou os chuveiros para poder fabricá-los em grande escala”, comenta uma de suas descendentes.

Porém, mesmo desligado do ramo, ele chegou a registrar 200 patentes em seu nome, tais como torradeiras, ventiladores e cafeteiras. “Nem todas eram funcionais, muitas precisavam de aperfeiçoamento. Em muitos casos ele acabava parando de pagar a patente um tempo depois”.

Assim, a Eletrometalúrgica Jauense cresceu do quarto da casa de Chico para uma das maiores fábricas da cidade. Ela atuou na cidade até 1997; depois seu bisneto Nelson Francisco, filho de Maria do Carmo, a levaria para sua cidade em São José do Rio Preto.

Segundo Maria do Carmo, seu pai morreu em 27 de Maio de 1988, de causas naturais. “Ele morreu tranquilo, e deixou seu legado para seus filhos. Me alegra saber que meu filho Nelson continuou com aquilo que meu pai criou”, revela emocionada a filha de um dos maiores inventores jauenses.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Uma voz poderosa em Jaú


A cantora lírica mais famosa de Jaú fez com que a população conhecesse o poder e o tom de sua voz há centenas de metros de distância. No entanto, também ficou marcada na memória por sua expressão sempre suave e delicada, dentro e fora dos palcos.

A mais nova filha entre 13 irmãos nascida 22 de abril de 1920, Elza era filha dos italianos Pedro Munerato e Veneranda Cavalline Munerato. Desde a infância sempre demonstrou vontade em fazer música, seja cantando ou tocando piano. E assim que as aulas começaram, não parou mais.
Então foi apenas uma questão de tempo para começar a fazer os shows e mostrar seu talento com a música lírica.

A aposentada Francisca de Camargo conta que era jovem quando ouvia Elza cantar em casas de shows pela cidade. “A voz dela era a coisa mais linda. Ela também era um amor de pessoa, sempre muito simpática e cordial, mas a sua voz... Fico sem palavras, não tem como explicar como era ouvir ela cantando” conta. E completa, “fico arrepiada só de lembrar como era linda a sua voz”.

No entanto, sua voz era também utilizada em outro lugar. Na rádio Jauense, durante a década de 50, Elza tinha um programa infantil chamado “Tia Elza”, onde contava histórias, recebia crianças no auditório da rádio, ensinava os pequenos a cantar, além de colocar músicas e até mesmo soltar o “gogó” às vezes.

O deslumbramento de Francisca começou quando sua mãe a levava junto para ver os shows de Elza, e depois continuou com a sua passagem pela rádio. Mas, depois do primeiro espetáculo, não parou mais de ir. “Ia sempre, sempre mesmo. Até mesmo quando me casei, fiz meu marido voltar antes da lua de mel porque eu precisava ver a sua procissão encenando a Verônica andando pelas ruas da cidade”, comenta a aposentada.

O teatro era outra arte que Elza adorava. Ficava encantada quando via peças, mas nunca achou que conseguiria interpretar alguém. No entanto, na década de 50, a artista foi convencida pelos pais e irmãos que deveria tentar.

Ela entrou para um grupo de teatro amador do Grêmio Paulista Jauense, chamado “Sempre Sorrindo”, onde estudou a arte por pelo menos 20 anos antes de sair às ruas. Mas, quando saiu para encarar o público atuando, não pode deixar de lado a sua voz.

Cantando e atuando, Elza levou centenas de pessoas em procissões nas sextas-feiras da Paixão, com traje e véu preto em luto por Jesus Cristo. Ela interpretava Verônica. Seu canto lírico delicado, mas imponente era ouvido por todos os acompanhantes, que se aquietavam para não perder um segundo.

Elza cantou e encantou Jaú e inúmeras cidades da região. No entanto, em meados de 1986 recebeu a notícia de que estava com câncer. Como a doença já estava em estágio avançado, os médicos do hospital “Dr. Amaral Carvalho” a internaram mesmo sabendo que ela não teria escapatória. Pouco tempo depois, mais exatamente em 10 de novembro de 1986, Elza veio a óbito aos 66 anos. Como não era casada e não tinha filhos deixou sua fortuna para seus irmãos ainda vivos.

Um ano depois, o então prefeito Celso Pacheco homenageou a artista nomeando o teatro municipal em 1987 com o nome de Elza Munerato. Um nome que marcou a arte do século XX em Jaú.

O primeiro jauense formado em Medicina



O médico que construiu a primeira maternidade jauense foi uma das pessoas mais bondosas que a cidade já viu. Além de fazer cirurgia em quem quer que precisasse, fosse rico ou pobre, criou laços de amizade até mesmo entre seus adversários políticos. O tornando um dos filhos mais queridos da cidade.

Antônio Pereira de Amaral Carvalho, mais conhecido como Dr. Amaral Carvalho, nasceu no dia 9 de agosto de 1873. Se formou como médico em 1904, mas já havia trabalhado como farmacêutico. Foi o primeiro jauense formado em Medicina. Iniciou os trabalhos na Santa Casa de Jaú e fez a primeira grande cirurgia, fazendo uso de seus próprios materiais cirúrgicos já que naquele hospital os instrumentos eram precários.

Mas não foi só por suas cirurgias que ele ficou conhecido. Junto de sua mulher, Ana Marcelina de Carvalho, doaram um dos terrenos pertencentes a sua família e conseguiram recursos para a construção de uma maternidade.

O terreno amplo, compreendendo 25 mil metros quadrados de área, maior do que um campo de futebol, foi doado no Natal de 1915. No entanto, a maternidade e o hospital só seriam inaugurados em 23 de março de 1916. O hospital homenageava o Dr. Amaral Carvalho, enquanto a maternidade homenageava a sua esposa.

Ele possuía grande apreciação pela cultura do campo. Em uma época em que a plantação do café estava em alta, estudou a possibilidade em criar gados. Com o dinheiro que conseguia da venda dos animais, comprava os adubos para os cafezais.

Carlos Alberto Carvalho, neto do Dr. Amaral, lembra dos passeios na fazenda. “O gado era de uma ótima raça, uma das melhores. Quando eles cruzavam e nascia um bezerrinho, sempre saia de raça também, o que rendia muito mais dinheiro a ele.”

E, como um bom empreendedor, o médico soube aproveitar tudo o que a pecuária e agricultura lhe forneciam. “O leite que saía das vacas era transformado em manteiga. Era muito boa. Uma das melhores e mais vendidas em Jaú. E o café, sempre com um bom gosto, forte”, relata o neto.

Ele também iria se envolver na política da cidade, e posteriormente atuaria como deputado e senador. No entanto, apesar de ser tão querido por todos, sofreu com a morte de seu primeiro filho, Dr. Nelson. “Meu pai conta que meu tio tinha herdado o gosto pela medicina, a bondade e a inteligência do meu avô. Mas ele adoeceu e morreu aos 31 anos. Meu pai me contou que aquilo derrubou o meu avô. Mas ele conseguiu se reerguer graças aos amigos que tinha”, comenta Carlos Alberto.

Após tanto sofrimento, a pneumonia, que havia adquirido durante os anos em que serviu como médico na 2ª Guerra Mundial, piorou e ele veio a falecer em 03 de janeiro de 1954. Seu enterro foi um dos maiores de Jaú, já que todos os que já tinham passado pelas mãos ou companhia do médico marcaram presença. Ricos e pobres, companheiros e adversários acompanharam o velório que entristeceu o município.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

O jovem que previa as mortes



Nascido em Jaú por volta de 1940, Coriolando Rodrigues de Lima era uma pessoa simples, de família igualmente modesta. Conta-se que ele possuía dons sobrenaturais, e que de sua adolescência para frente começou a “prever” a morte de pessoas pela cidade.

Conhecido como “Criolando”, ele possuía um irmão mais novo, que junto com seu pai, era o responsável por prover o sustento da casa. Mas o jovem, por sua vez, não era dotado de plenas faculdades mentais.

“Minha mãe dizia que ele possuía algum problema de cabeça. Ela conhecia o Benedito, irmão mais novo do Criolando, e dizia que ambos eram bons rapazes, mas que o Criolando não era muito bem da cabeça”, diz a aposentada Silvana Siqueira, que conta que sua mãe era uma das vizinhas dessa figura tão intrigante.

Criolando gostava de passear pela cidade montado em seu cavalo Boneca, feito de madeira e com crina de restos de tecido colorido. “As crianças zombavam com ele, porque ele já era adulto e andava em um cavalo de madeira pela cidade”, diz Silvana.

A aposentada diz que por toda sua vida ouviu histórias sobre Criolando e que sempre diziam que ele era pacífico, embora agisse de forma incomum. “Sempre que alguém morria na cidade, ele saía de casa triste e pedia aos vizinhos que lhe doassem flores para que ele levasse a família do morto em sinal de pesar”, comenta.

Segundo ela, muitas pessoas receberam as visitas dele e se assustava ao vê-lo. “Mas ele sempre acertava, até antes de os parentes da pessoa falecida ver que alguém havia morrido”.

Porém, após a morte de seus pais, seu irmão, que trabalhava como farmacêutico, mudou-se para Santo André levando junto seu irmão. Lá, ele teve tuberculose e foi internado às pressas em uma instituição pública. Porém, por não poder pagar um tratamento melhor, Criolando veio a falecer no dia 07 de setembro de 1981, em Santo André, onde foi enterrado.

Embora distante, não foi esquecido pela população jauense. E no mesmo ano, o prefeito Alfeu pediu autorização a Benedito para trazer o corpo de Criolando para Jaú. Ele foi enterrado em uma cova modesta, porém perpétua. Boa parte da cidade estava presente no enterro simbólico feito em sua homenagem.

Após seu enterro, a fama de milagreiro começou a crescer. Muitos jauenses, como a própria Silvana, começaram a recorrer a ilustre figura em momentos de aperto. “Meu filho estava muito doente e eu rezei com toda minha fé ao Criolando. Ele era uma boa alma e eu já havia ouvido falar que ele era milagreiro”, explica.

Segundo ela, seu filho melhorou em pouco tempo. “Desde então, eu venho no dia de finados depositar uma flor e um cavalinho de madeira em agradecimento. Para mim, ele é um santo, não importa o que dissessem sobre ele”.

A capela em homenagem ao Coriolando apenas seria construída em 2006, em pagamento de uma promessa a ele. Outra justa homenagem foi dar-lhe o nome do velório municipal, já que enquanto viveu em Jaú, ele sempre esteve presente no local para esboçar seus sentimentos pelos parentes de seus “amiguinhos” falecidos.

O inventor da urna de lona


Os jauenses sempre estiveram engajados na política. Seja mandando seus homens para lutar na Segunda Guerra, na Revolução de 32 ou no campo da política. Sempre houve quem acreditasse que poderia fazer muito, embora tivesse nascido em uma cidade pequena.

Abílio Cesarino era filho de um italiano e uma brasileira. Embora tenha nascido em Sapre, na Itália, no dia 22 de maio de 1914 e veio com menos de um ano para o Brasil. Sua família fixou resistência em Jaú, cidade em que viveria por toda sua vida.

Em 1955, ele trabalhava para uma fábrica de malas quando Getúlio Vargas lançou um concurso. Como era comum a fraude eleitoral, afinal os papéis com os votos eram jogados dentro de uma caixa e ficavam a vista de todos que votaram e podiam ser facilmente adulterados ou até mesmo descartados.
O Governo Federal precisava de algo que tornasse a votação mais segura. Assim, foi aberto um concurso para que fosse criada uma urna mais prática e segura para se depositar as cédulas de votação.

Abílio patenteou uma urna com tampa móvel de madeira que era fechada por um cadeado. Após travada, a urna poderia ser condensada em uma pasta. Porém, ele não conseguiu se inscrever a tempo na competição que teve mais de dez mil protótipos inscritos. A campeã foi uma urna com zíper em uma das laterais.

Abílio não se deu por vencido e provou ao Secretário do Tribunal, Ibsen Costa Manso, que o modelo vencedor poderia ser violado com facilidade e o convenceu que sua invenção era a melhor opção para ser adotada.
Por causa da falta de proteção da urna campeã, uma nova concorrência foi aberta e desta vez Abílio a ganhou. Ele produziu mais de cinco mil urnas e as ofereceu gratuitamente ao governo, com duas condições: que 70 delas fossem mandadas para Jaú e que a cidade fosse a primeira cidade a usá-las em uma votação. O pedido foi aceito e Juscelino Kubitschek foi eleito presidente com mais de três milhões de votos.

Sua empresa, a Miac, chegou a fabricar 100 mil urnas eleitorais para o Brasil até 1976, quando ele deixaria a empresa, na qual começou como funcionário e chegou a ser um dos acionistas.

Em 1998 foi criada a urna eletrônica, a substituta do invento de Abílio. Ele poderia ter ficado triste, mas foi contemplado como o primeiro a votar nela.

Sua neta, Raquel Cesarino, diz que o avô se sentiu muito orgulho ao ser convidado a votar com a urna eletrônica. “Ele era um amante da tecnologia. Sempre foi alguém a frente de seu tempo e se sentiu realizado ao ser convidado para estrear a urna”.

Todas as zonas eleitorais da cidade receberam as novas urnas logo em 1998, diferente até mesmo de cidades maiores que tiveram elas trocadas aos poucos.

Abílio estava lá, logo que sua zona eleitoral foi aberta na Escola Estadual Dr. Tolentino Miraglia e depositou seu voto. Aliás, voto secreto segundo a neta. “Ele dizia que democracia era votar em quem você acreditaria que faria o melhor e não ter que dizer quem era essa pessoa”, recorda.

Ele se tornaria presidente honorário da Fundação Amaral Carvalho e foi nesse cargo que veio a falecer em 30 de dezembro de 2002, de causas naturais.