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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

O pároco que foi para a guerra e passava filmes



Padre Augusto Sani, mesmo nascido na Itália, fez muito pelos jauenses. O mais conhecido pároco da Igreja São Benedito utilizava seus sermões para transmitir todo seu conhecimento sobre a vida, seja em assuntos polêmicos ou não.

Nascido na cidade de Volano, na província de Trento, em 08 de agosto de 1910, ele enfrentou inúmeros desafios antes de chegar ao Brasil, em 1947.
Assim que se tornou sacerdote, foi para a Etiópia, na África, ajudar as pobres crianças castigadas pela fome. Lá, ficou por cinco anos desenvolvendo trabalhos de assistência à população.

Contudo, quando a Itália perdeu o território da Etiópia para os ingleses, ele foi feito prisioneiro no Quênia. Ficou preso por sete meses, mas não perdeu a alma de um bom padre. Exerceu suas funções religiosas com os prisioneiros e ainda realizou trabalhos sociais, tais como um jornal interno e até mesmo teatro.

Foi libertado do Quênia quando foi escolhido, com outros 12 presos, para ser trocado por outros prisioneiros ingleses.

Não sabia, porém, que ainda iria ver tanta dor e sofrimento. O historiador Roberto Carvalho, que mora no Rio de Janeiro, se especializou sobre a 2ª Guerra Mundial. Ele conta que, como a Itália fazia parte do Eixo, os alemães pediram ajuda. “Pediram que enviassem dois padres para dar apoio espiritual aos prisioneiros. E o Padre Sani foi um dos que foram convocados e seguiu para a Alemanha. Ele viu todos aqueles comboios chegarem com 90, até mesmo 100 judeus, todos para serem queimados em fornalhas. Ele viu tudo, até mesmo a fabricação de sabão com a utilização do óleo dos corpos cremados” relata Roberto.

“Mas nem por isso ele deixou de orar. Ele ficou conhecido por lá como o padre mais carinhoso. Ele rezava, conversava, abençoava e perdoava os pecados, mesmo que os judeus não tivessem cometido nenhum pecado para estarem lá presos”.

Assim que a guerra acabou, o padre veio para o Brasil e junto com ele a vontade de se fazer um mundo melhor. Ainda segundo o historiador, “ele aprendeu muito com tudo o que viu, ele passou a ser uma pessoa muito mais amorosa e carinhosa tendo em consciência todo o sofrimento das pessoas.”

Quando veio para Jaú, em 1947, Sani ergueu um seminário e lutou pelo calçamento de um bairro todo de terra, que após sua morte ganharia seu nome. Também montou um cinema paroquial. Contudo, quando o governo obrigou as salas a exibir 50% de filmes nacionais foi o fim desses cinemas em todo o Brasil, já que a produção nacional se resumia a filmes de Mazzaropi e eróticos.

O padre também ficou conhecido por algumas famílias jauenses como aquele que era contra a união de um casal simplesmente porque a menina estava grávida. Ele dizia que esses casais não tinham maturidade, portanto não dariam certo. Isso foi contra todas as expectativas e pensamentos das famílias, mas muitos apoiaram no fim das contas.

Sani, no entanto, voltou para a Itália, onde viria a falecer tempos depois, em 1996, de causas naturais.

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